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A atualidade da África Vermelha
Vijay Prashad e Mikaela Nhondo Erskog (*)
Em 2020, Kevin Ochieng Okoth, que vive em Londres, publicou uma crítica sustentada na revista Salvage, onde também é editor. O ensaio, intitulado “The Flatness of Blackness: Afro-Pessimism and the Erasure of Anti-Colonial Thought” (A planura da negritude: o afro-pessimismo e o apagamento do pensamento anticolonial), defendia que a escrita contemporânea sobre o racismo e o colonialismo empreendeu um desvio deliberado em torno de toda uma tradição de escrita marxista em grande parte africana e caribenha, uma “África Vermelho” ou um “Afro-Marxismo”, como lhe chamou, que incluía pessoas como Amílcar Cabral da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Agostinho Neto de Angola, Samora Machel de Moçambique e Thomas Sankara do Burkina Faso (1). A escola de pensamento conhecida como Afropessimismo, escreveu Okoth, descreve um mundo em que as pessoas de herança africana são condenadas pela modernidade à “morte social” (para tomar de empréstimo a frase do sociólogo Orlando Patterson), e nestas condições sociais nunca podem ser vistas como ou agir como sujeitos políticos. Esta tradição de pensamento, argumentava Okoth, significa que não há possibilidade de qualquer transcendência das condições sociais num mundo moderno. Tal forma de pensamento, afirmou de forma persuasiva, imobiliza aqueles que gostariam de confrontar estruturas e atitudes racistas; nem pode transformar o mundo num outro onde a humanidade possa finalmente existir sem hierarquias e qualificações.
Um ano e meio depois, Okoth regressou às páginas de Salvage com outro ensaio poderoso, “Decolonisation and its Discontents: Rethinking the Cycle of National Liberation” (2) (Descolonização e os seus descontentes: repensar o ciclo de libertação nacional). Neste ensaio, Okoth visou a abordagem denominada Estudos Decoloniais, que, desligada de uma avaliação da economia política e da teoria política, rejeitou a ideia de colonialismo e, em vez disso, concentrou-se na ideia de “colonialidade”, que estas teorias, lideradas pelo falecido sociólogo peruano Aníbal Quijano, sugeriram ser um “modo de poder”, não estando enraizado nas estruturas neocoloniais de todo o mundo (3). Para Okoth, os Estudos Decoloniais, tal como o Afropessimismo, diminuem as estruturas económicas e políticas do mundo e minimizam o facto da luta de classes – se não chegarem ao ponto de a rejeitarem completamente. Mais uma vez, tal como o Afropessimismo, o campo dos Estudos Descoloniais ignora a tradição do marxismo de libertação nacional ou, como Okoth disse vivamente, da África Vermelha.
Estas críticas ao Afropessimismo e aos Estudos Decoloniais mostraram a Okoth que existem várias epistemologias que se centram nas questões da raça e do racismo, mas que esvaziam qualquer espaço nas suas teorias para a práxis. Simplesmente não há espaço de manobra, nem agência concedida às pessoas de ascendência africana ou aos povos colonizados para lutarem pela mudança do mundo. Estas epistemologias tornaram-se influentes nas academias do Norte global, e esta localização funciona como uma força social poderosa – inclusive através de fundações de investigação, públicas e privadas – para se imporem nas academias do Sul global; e estas teorias tiveram um impacto igualmente negativo no aumento da perplexidade nos movimentos sociais que emergiram da luta espontânea contra a estrutura neocolonial (4). Ainda assim, mesmo nas academias do Norte global, estas são abordagens contestadas que não foram capazes de suprimir as tradições que procuram difamar e ofuscar, como o marxismo de libertação nacional.
Okoth pegou nestes dois ensaios de Salvage e alargou a sua argumentação para nos dar um livro breve, mas mordaz, chamado Red Africa: Reclaiming Revolutionary Black Politics. O livro abre com uma memória da campanha #RhodesMustFall, na África do Sul, em 2015, quando os estudantes exigiram o apagamento dos símbolos do antigo passado colonial-apartheid (ou então, exigiram que a presença de relíquias coloniais não fosse normalizada) como parte da uma luta para estabelecer um sistema educativo pós-austeridade, na África do Sul. Okoth descobriu que uma das teorias dominantes impulsionadas por alguns ativistas nos protestos ali, e, mais tarde, nos protestos Black Lives Matter nos Estados Unidos da América, era desconcertante: porque é que as pessoas apresentariam argumentos baseados nas tradições do Afropessimismo, que sugeriam que a negritude “é uma condição eterna que impede a participação dos negros na política”? (5)
Os debates que começou a ter, que viriam a ser publicados na revista Salvage e agora em Red Africa, não eram ociosos, mas, como ele diz, eram sobre “a própria possibilidade de uma política negra revolucionária” (6). Estava claro para Okoth, então, sendo agora esclarecido de forma mais completa, no seu livro, que o apagamento da política e da filosofia africanas, que remonta a séculos antes da conquista colonial, o apagamento do legado de libertação nacional no continente africano, e o apagamento do marxismo, na sua forma anticolonial, em todo o Sul global, forçou uma espécie de rendição à realidade que criou uma “atitude de desespero” (7). Parte deste apagamento é uma consequência daquilo a que Ruth Wilson Gilmore chamou de “formação de intelectuais privados”, grupos de pessoas formadas nas academias e isoladas (quase deliberadamente) do lado da dialética encarnado pelos trabalhadores do mundo (8). O trabalho de estudiosos como Gilmore forneceu a ponte necessária que liga os recursos do marxismo de libertação nacional e os imperativos do livro de Okoth. Na verdade, através das suas leituras e da sua avaliação, Okoth sente que “a política da África Vermelha não se esgotou e que os futuros anticoloniais ainda podem ser imaginados de novo”. Esta é uma tese muito necessária, que Okoth defende em Red Africa com talento e credibilidade.
Origens
Uma crítica robusta do Afropessimismo e dos Estudos Decoloniais está agora disponível, embora poucos desses textos críticos localizem essas epistemologias no seu contexto, como seria adequado a uma análise marxista; é precisamente isso que tentaremos fazer nesta seção. Quase tão desconcertantes quanto as suas permeações contemporâneas são alguns dos primeiros usos do Afropessimismo no discurso público: a primeira menção impressa é atribuída a Michel Aurillac, o Ministro Francês da (chamada) Cooperação no governo Jacques Chirac. Num artigo de 1987, Aurillac alertou contra o Afropessimismo e a visão europeia de que a África havia ganho na "lotaria dos flagelos contemporâneos", apenas para justificar as políticas neoliberais europeias no continente, defendendo o avanço do capital, a "iniciativa privada, a parceria corporativa... [como] o ponto de partida obrigatório para o desenvolvimento económico" (9). Para esse Afropessimismo anterior, a África era um desastre e uma oportunidade, e não um lugar de luta para estabelecer soberania e dignidade. Foi desmascarado, no seu nome, pelo estudioso guineense Manthia Diawara, no seu livro evocativo In Search of Africa (1998) (10).
Décadas depois, o Afropessimismo ganhou uma nova vida. A principal voz do Afropessimismo, Frank B. Wilderson III, publicou seu significativo corpo de trabalho durante a presidência dos E.U.A. de Barack Obama (2009–2017), durante a qual a onda de violência anti-negra não diminuiu, levando - como se verificou - ao surgimento do movimento Black Lives Matter em 2013. Certamente foi desconcertante ver um presidente negro presidir a um Estado e uma sociedade convulsionados pela violência anti-negra, e vê-lo tentar guiar as instituições estatais no meio dessa violência e dos protestos resultantes. Não é totalmente descabido supor que, mesmo com um homem negro no comando, a estrutura degradada e racista nos Estados Unidos da América não se moveria e, portanto, que a anti-negritude está enraizada na própria ontologia do mundo moderno. Os trabalhos de Wilderson Incognegro (2008), Red, White, and Black (2010) e Afropessimism (2020) participam numa longa tradição de pensamento afrocêntrico (um texto ilustrativo sendo The Afrocentric Idea, de Molefi Kete Asante, publicado em 1987), na "virada cultural" na academia no Atlântico Norte, com sua orientação pós-marxista, bem como de um ataque implacável para privar os eleitores negros dos direitos civis nos Estados Unidos da América e revogar seu direito à política (cujo ponto alto foi o caso Shelby County v. Holder, de 2013, que minou o Voting Rights Act de 1965). Embora tivesse alguns marcadores externos que atraíam jovens ativistas de #RhodesMustFall e Black Lives Matter, lisonjeando pensadores como Frantz Fanon, esse Afropessimismo, fundamentalmente, interpretou mal e contornou o conteúdo crítico de contribuidores-chave para o cânone dos Estudos Negros e da África Vermelha. Por exemplo, Okoth dá o exemplo da distinção nítida que os afropessimistas fazem entre o preferível Fanon que escreveu sobre a negritude em 1952 e seus “desvios” posteriores, em seus escritos pós-coloniais (11).
Se não houver qualquer caminho político promissor para os afro-americanos, então qual será o sentido de qualquer crença numa agenda política ou na possibilidade de emancipação, dentro do que era visto por essa tradição como uma cultura e sociedade fundamentalmente anti-negras? A tradição do Afropessimismo, tendo rejeitado o marxismo, recuou para uma consideração da cultura e forjou uma política de derrota permanente.
O que está substancialmente ausente no trabalho-chave do Afropessimismo é o arsenal teórico produzido no continente africano que se envolveu em debates em torno da ideia de uma “sociedade tradicional africana”, um termo mobilizado por setores de socialistas africanos para justificar seu próprio caminho político para sair do colonialismo. Um dos críticos mais significativos da ideia de uma “sociedade tradicional africana” é o estudioso beninense Paulin Houtondji, cujo Sur la philosophie africaine (1976) fornece uma forte réplica à “etnofilosofia” que se refugia no conhecimento parcial dos passados africanos e que não reconhece a dinâmica real da sociedade africana presente, os movimentos reais que estão tentando superar uma longa - mas não eterna - história de opressão e exploração (12). Outro crítico da ideia de atemporalidade africana é o estudioso camaronês Achille Mbembe, cujo trabalho (especialmente On the Postcolony [2000]) avança, entre outras coisas, uma tentativa de enfrentar a violência económica imposta aos países africanos pelas políticas de ajuste estrutural, num momento em que o afro-marxismo estava em declínio como um sistema explicativo hegemónico (13). Embora ele rejeite o marxismo e a libertação nacional como “construções vazias de elementos mortos”, como Okoth aponta, em vez do desespero, Mbembe estava em busca do “cerne de uma verdadeira política de liberdade” (14). Nenhuma dessas avaliações ou gestos em busca de uma política afirmativa penetrou nas fundações do Afropessimismo.
Os Estudos Decoloniais têm uma história de origem mais desconcertante, tendo surgido, em grande parte, no trabalho de académicos sul-americanos que se exilaram na América do Norte, afastando-se do amplo espectro do marxismo enraizado nas relações de classe e na luta de classes, não quando essas coisas pareciam fúteis na América do Sul, mas quando novos projetos surgiram após a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, em 1998. Foi depois que Chávez embarcou numa missão para romper com os Estados Unidos da América e integrar a América Latina num projeto bolivariano que Quijano publicou a sua obra Coloniality of Power, Eurocentrism and Latin America (2000) (Colonialidade do Poder, Eurocentrismo e a América Latina), que se definiu como contrário o pensamento europeu, buscando respostas para os problemas da dependência, não na luta de classes (mesmo conforme desenvolvido pelo seu conterrâneo José Carlos Mariátegui, nos seus Sete Ensaios Interpretativos sobre a Realidade Peruana de 1928), mas numa compreensão altamente romântica do pensamento e das tradições indígenas. Não houve qualquer avaliação, nesta tradição de pensamento, por exemplo, do surgimento de Evo Morales, um homem indígena, como líder do Movimento ao Socialismo, na Bolívia, em 1998, ou da sua presidência entre 2006 e 2019, tendo alguns membros dessa ampla escola até apoiando o golpe de estado perpetrado contra ele (15). Apesar de toda a conversa sobre decolonialidade, os textos reais desses escritores raramente se envolvem com pensadores de origem africana e, ainda menos frequentemente, com o comércio transatlântico de seres humanos que marcou época (16). A carreira de Quijano começou com livros enraizados na luta de classes (El movimiento campesino peruano y sus líderes [1965] e Crisis imperialista y clase obrera en América Latina [1974]), mas o seu trabalho mais recente rejeitou toda essa tradição do marxismo de libertação nacional e a sua promessa (17).
O termo “decolonial” tem sido amplamente usado fora dos limites definidos por Quijano e outros, que usam o termo para se concentrar no lado cultural da luta contra o colonialismo. Okoth não pisa esse universo político, mas ele é substancial e importante. O historiador Dilip Menon expôs três “grupos de ideias” que definem tais estudos (18). Primeiro, há a questão crucial de quem pode teorizar e o que conta como teorização. Há uma tendência a dizer que os intelectuais do Sul global descrevem a realidade, enquanto os académicos do Norte global a teorizam. Parte dessa tentativa de descolonizar o conhecimento é estar alerta às “tradições existentes” do pensamento intelectual no Sul global. Segundo, a tradução de ideias de uma comunidade linguística para outra não é um ato de transparência, mas de profunda atenção aos deslizes e derrapagens que diferentes ideias e conceitos sofrem em diferentes mundos intelectuais. O pensamento intelectual, escreve Menon, não deve ser um “monólogo”, mas um diálogo entre línguas e linhagens conceituais. Finalmente, há uma acusação feita contra a ideia de tempo como neutro, quando na verdade diferentes tradições culturais trabalham com o seu próprio sentido do tempo, em termos não apenas de como alguém vive no presente, mas de como alguém entende o passado. Há civilizações no nosso meio que não conseguem enxergar para além de alguns dias ou da vida útil de um ser humano, enquanto outras fazem políticas com base nas suas aspirações para o próximo século. Estas reflexões não são antitéticas a uma avaliação das relações de classe numa sociedade, nem ignoram, por exemplo, o marxismo em nome de uma crítica ao eurocentrismo.
Embora seja possível entender por que Wilderson e outros desenvolveram uma orientação afropessimista, dadas as duras realidades do racismo nos Estados Unidos da América, é quase impossível entender a política de rendição existentes dentro dos Estudos Decoloniais. A política não se move numa direção linear, mas ziguezagueia, com avanços e derrotas, como parte da luta para emancipar a humanidade. É preciso muita coragem intelectual para permanecer comprometido com uma política de esperança num momento de desespero, catalogar as revoltas provocadas pelas contradições do nosso tempo e teorizar a capacidade desses movimentos espontâneos em direção à reconstituição de uma política de esquerda mais organizada. O Caracazo de 1989, uma revolta espontânea contra as políticas de austeridade na Venezuela, encorajou Chávez, que atraiu as fações da esquerda ao seu redor, não apenas para vencer uma eleição presidencial em 1998, mas para transformar radicalmente o aparentemente intransigente Estado venezuelano numa direção bolivariana e socialista. Nada disso foi assumido por tradições de pensamento que já se haviam afastado dos processos históricos reais e tomado refúgio em empreendimentos filosóficos que não conseguiam gerar nenhuma estratégia ou tática (numa entrevista dada em 2022, Wilderson disse: "O afropessimismo não responde à pergunta de Vladimir Lenine sobre o que fazer?") (19). Chávez, como Morales, abraçou as tradições e o pensamento indígenas, criando uma política de esquerda adequada aos tempos, mas também construída sobre os projetos marxistas de libertação nacional de uma geração anterior (inclusive apoiando-se no marxismo cubano, um recurso necessário e crucial para toda a América Latina).
Rendição
Okoth expõe três características cruciais para o funcionamento do Afropessimismo e dos Estudos Decoloniais. Em primeiro lugar, há uma rejeição de qualquer atenção séria às relações de classe e à luta de classes, o que significa - essencialmente - uma rejeição do marxismo. Toda a tradição marxista é ridicularizada por ser eurocêntrica, apesar da longa história de envolvimento, no seu seio, de não-europeus, bem como da longa história de elaborações na tradição marxista que a levam a ser “ligeiramente esticada” (como disse Fanon) ou revista “para a tornar mais precisa e lhe dar um campo de aplicação ainda mais vasto” (como disse Cabral), de modo a compreender bem a relação do comércio de escravos e do colonialismo com o capitalismo (20). A crítica ao eurocentrismo emergiu do interior do pensamento marxista, através do trabalho de Joseph Needham, Irfan Habib e Samir Amin, muito antes de ser adotado como forma de atacar o marxismo a partir de fora (21).
Em segundo lugar, há uma rejeição da práxis, com a ênfase a ser posta não mais em tentar mudar o mundo, e nem mesmo - no caso do Afropessimismo - em tentar entender o mundo, mas meramente em reconhecer as hierarquias como eternas e a esperança como fútil. Esta dispensa da ideia de mudança arrasta o pensamento para um impasse, permitindo que os intelectuais efetivamente permaneçam separados das realidades das lutas dos humanos para atingir algum tipo de dignidade no mundo (22).
Terceiro, por causa do magnetismo dos proponentes do marxismo de libertação nacional, até mesmo os pensadores mais antimarxistas são atraídos por eles. O desafio para o teórico antimarxista é, assim, domesticar os dirigentes da libertação nacional e tratá-los como meros reunidores de ideias e não como pessoas que fizeram parte de movimentos para transformar o mundo. Efetivamente, essas correntes antimarxistas - como o Afropessimismo e os Estudos Decoloniais - rendem-se à realidade, permitindo-se acreditar que uma crítica da epistemologia e da ontologia é suficiente como uma forma de radicalismo.
Um exemplo do que Okoth descreve pode ser encontrado no atual renascimento do interesse por Walter Rodney, um intelectual guianense que foi assassinado em Georgetown, enquanto construía o partido Working People’s Alliance, e que faz parte da Red Africa de Okoth. A Verso Books está publicando a totalidade da obra de Rodney em edições finamente projetadas. Da totalidade da obra publicada de Rodney, não há livro tão amplamente lido quanto How Europe Underdeveloped Africa (1972; a edição Verso de 2018 também inclui um prefácio de Angela Davis). Rodney deixou o Caribe para lecionar na Universidade de Dar es Salaam, na Tanzânia, por dois períodos (1966-1967 e 1969-1974). Durante a sua segunda passagem pela Hill, como esta Universidade era conhecida, Rodney escreveu How Europe Underdeveloped Africa (Como a Europa subdesenvolveu África), com base nas descobertas da Teoria da Dependência terceiro-mundista e na sua própria compreensão do papel do tráfico de escravos e do ataque colonial ao continente africano. O antecessor desse livro foi o notável volume de 1965 de Kwame Nkrumah, Neo-Colonialism: The Last Stage of Imperialism (Neocolonialismo: O último estágio do imperialismo), que foi escrito enquanto Nkrumah era presidente de Gana e foi uma das razões pelas quais ele seria deposto num golpe de estado apoiado pelo Ocidente em 1966 (23). Rodney escreve firmemente numa tradição marxista de libertação nacional que inclui figuras como Ho Chi Minh, Mao Zedong e Nkrumah (24). As conexões ressonantes entre este livro e As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, publicado em 1971, não poderiam ser mais claras (25). Esta é uma história escrita de um ponto de vista marxista, com grande verve literária, enraizada na antecipação de um futuro socialista necessário.
Em março de 2023, o departamento de antropologia da Universidade de Columbia realizou um simpósio para homenagear How Europe Underdeveloped Africa, de Rodney. As apresentações formam uma seção especial no periódico small axe, publicado pela Duke University Press, atrás de cortina pagante (“paywall”). Os ensaios são todos fascinantes, e os autores são pessoas brilhantes com um conhecimento acumulado, entre eles, que os tornaria companheiros fabulosos (26). Mas a maioria dos ensaios é insatisfatória porque escrevem sobre Rodney apesar dele mesmo, intrigados com o seu comprometimento, não apenas com o método marxista, mas também com a política comunista, tentando ressuscitar um Rodney pós-marxista para os nossos tempos (de facto, um volume dos escritos políticos de Rodney foi publicado pela Verso em 2022 com o desajeitado título Decolonial Marxism, como se Estudos Decoloniais e Marxismo pudessem ser assim tão facilmente reunidos na obra de um homem, que não era, de nenhuma forma, "decolonial" avant la lettre, mas sim um empenhado marxista anti-imperialista).
Um ensaio, de David Scott, professor da Universidade de Columbia e editor da small axe, nos pareceu emblemático dos problemas levantados por Okoth. O ensaio perspicaz de Scott contém todas as limitações do interesse num Rodney pós-marxista, mas queremos nos concentrar em duas dessas limitações:
- O Rodney pós-marxista: Um ataque estereotipado ao marxismo surgiu na década de 1980, de várias correntes que viriam a definir o pós-estruturalismo e o pós-modernismo. Uma das principais acusações contra o marxismo é que o materialismo histórico estava ancorado numa visão da história como estágios, com uma suposição teleológica da finalidade comunista. Scott, por exemplo, descarta a "teleologia etapista e desenvolvimentista" de Rodney (27). Esse argumento é hipócrita porque omite o facto de que todos os relatos históricos científicos devem periodizar o longo curso da história (e, portanto, fornecer conceitos "etapistas" para diferenciar os períodos). De facto, até Scott, neste mesmo ensaio, sugere que passamos de um período revolucionário para um período de reparações, um estágio seguindo-se ao outro. Àparte alguns textos marxistas mais rígidos (e qual é a tradição que não tem a sua quota de rigidez?), o materialismo histórico não tem uma atitude religiosa em relação a esses estágios, mas tentou, fundamentalmente, entender melhor o passado pré-capitalista para melhor compreender a maneira como o capitalismo surgiu em diferentes partes do mundo. Os marxistas na Índia, por exemplo, têm lutado para avaliar as formações sociais pré-capitalistas e pré-coloniais, em parte para compreender melhor como a estrutura capitalista absorveu as hierarquias de castas e tribos na sociedade indiana moderna (28). Não havia nisso qualquer ilusão de que a Índia pré-capitalista fosse idêntica à Europa pré-capitalista, algo que Rodney deixou bem claro nos seus próprios escritos sobre a África pré-capitalista. Uma rejeição caricata do “estagismo” permite que o marxismo seja posto de lado e que se regresse - de facto - a uma atitude pré-marxista em relação à vida humana.
- O Rodney pós-revolucionário: As críticas ao pensamento teleológico são igualmente mistificadoras. Todo o pensamento sobre o presente considera o percurso da história que conduz ao futuro. Desde a sua origem, o marxismo tem defendido que as contradições do capitalismo conduzem em duas direções possíveis, ou à aniquilação do planeta e das suas populações ou ao socialismo (no Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels descrevem a luta de classes no seio do capitalismo como conduzindo, “quer a uma reconstituição revolucionária da sociedade em geral, quer à ruína comum das classes em conflito”) (29). Não há futuro inevitável. O avanço do capitalismo desenvolve as condições objetivas para uma sociedade socialista, mas as forças subjetivas não emergem pontualmente, a partir daí. As contradições do capitalismo produzem agitação espontânea - uma consciência sindical aqui e uma erupção contra o comportamento hierárquico ali - mas estas formas de agitação devem ser generalizadas numa política de massas que possa tornar-se suficientemente poderosa para impulsionar uma transição do capitalismo para o socialismo. Estas mesmas forças, de facto, podem ir na direção oposta, motivadas pelas miseráveis hierarquias do passado, para uma consciência de ódio que se volta para formas de fascismo.
Rodney criou a Working People’s Alliance (Aliança do Povo Trabalhador) na Guiana para lutar pela “reconstituição revolucionária da sociedade em geral” e para evitar o deslize para a barbárie da pobreza e do neofascismo. Scott argumenta que o tempo da revolução acabou, e que agora estamos no tempo das reparações e reparos, que o terreno da exploração não nos define mais, mas que o novo terreno é o da dívida (30). É certamente verdade que as forças subjetivas que construiriam o poder popular e levariam uma agenda revolucionária adiante não estão presentes, hoje em dia, em grandes partes do mundo, e certamente não o estão no Caribe de língua inglesa, que havia mobilizado importantes formações de esquerda na década de 1970 (levando, por exemplo, à Revolução New Jewel em Granada). No entanto, o facto de haver uma força enfraquecida agora, não significa que não possa haver um tal impulsionador, mesmo no curto prazo, e não significa que a possibilidade de um renascimento da esquerda no Caribe de língua inglesa esteja excluída. Na verdade, os elementos para um tal renascimento estão muito presentes entre as lutas de feministas socialistas, ativistas da terra, comunidades indígenas, sindicatos e o que na Jamaica são chamados de os sofredores (“the sufferers”) e os subcomuns ("undercommons"). Scott sugere que um programa de reparações é melhor do que um programa revolucionário porque não é teleológico, pois que o progresso "não é uma de suas categorias geradoras" e porque não há, assim, necessidade de se preocupar com "um futuro a ser conquistado" (31).
A demanda de Scott por reparações é compartilhada com a maioria dos governos do Caribe. Em 2014, os vinte países da Comunidade do Caribe (CARICOM) endossaram um Plano para a Justiça Reparatória, em dez pontos, que na verdade detalha a estratégia para reparações. Em agosto de 2023, a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Motley, realizou uma Conversa de Emancipação em St. Michael, Barbados, com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo (agora embaixador do Banco de Exportação e Importação da África) e o ex-primeiro-ministro da Jamaica, P. J. Patterson, onde eles pediram conjuntamente reparações do Norte global. Que há uma revolta popular sobre essa questão é inquestionável, e é por isso que esse tipo de eventos de alto nível acontece; se esses dirigentes realmente levam essa questão a sério (o que, afinal, levou ao segundo golpe de estado contra o presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, em 2004), é algo a ser visto. Então, em novembro de 2023, numa reunião do CARICOM e dos cinquenta e cinco membros da União Africana, Carla Barnett, de Belize, a secretária-geral da CARICOM disse: "Estamos num importante ponto de inflexão no movimento global por justiça reparatória", e que os países da África e do Caribe devem "falar a uma só voz para avançar o apelo por reparações" (32). Quando a historiadora Verene Shepherd ecoou esse apelo em 2000, talvez fosse então, como Scott o posiciona, uma demanda radical. Agora, é, de facto, uma demanda dominante no Caribe.
Sem uma exigência de classe, neste campo, as reparações provavelmente irão para uma burguesia nacional, que não avançará nenhuma agenda para beneficiar o povo. Tendo se afastado da política revolucionária para a das reparações, Scott se volta para uma política social-democrata (“há uma necessidade moral-política de lutar por justiça social, igualdade social e parceria política”), e embrenha-se mais profundamente no desespero, ao dizer que a ideia de um partido de vanguarda “dificilmente permanece sustentável”, dizendo então que o que precisamos são “novas conceções de organização política e de mobilização política”, não oferecendo, contudo, nenhuma sugestão (33). Tal conclusão marca uma rotura decisiva com a tradição revolucionária, chegando a um acordo com a ideia da permanência do capitalismo, mas então dizendo que não há nenhum instrumento disponível para auxiliar no tipo de humanização do capitalismo que ele preferiria. Esta é, enfim, uma rendição incondicional ao eterno presente.
É esta rendição que motiva a virada de Okoth para o que ele chama de África Vermelha, o mundo do marxismo de libertação nacional e do afro-marxismo - termos que ele usa de forma intercambiável.
Atualidades
Red Africa oferece breves biografias de vários marxistas pan-africanos e, então, abruptamente sugere: “Cabe-nos a nós construir um comunismo para os nossos tempos a partir das ruínas da África Vermelha” (34). O que ele não fornece é um mapa das lutas atuais - dirigidas por organizações de uma série de tradições políticas de esquerda - para construir uma nova possibilidade para o continente africano. Essas lutas emergem de uma antipatia às atitudes e estruturas coloniais do Norte global, que definem atualmente as possibilidades africanas. No catálogo dessas atrocidades recentes estão a guerra destrutiva da NATO contra a Líbia; o projeto militar dos E.U.A. chamado AFRICOM e seu número de bases militares, de Accra a Djibuti; as intervenções militares francesas pontuais em Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali e Níger; e o uso do Fundo Monetário Internacional para forçar os Estados africanos a se submeterem à vontade das empresas globais de mineração, por meio de políticas de austeridade e ameaças de inadimplência (35). Esta recensão não tem espaço para mapear a totalidade desses novos desenvolvimentos políticos, mas qualquer mapa desse tipo teria que incluir o seguinte:
(1) A vibração no Sahel (com os governos de Burkina Faso, Mali e Níger - inspirando-se em Sankara - conduzindo uma política profundamente patriótica, antifrancesa e cada vez mais anti-imperialista).
(2) O renascimento de uma agenda socialista e pan-africanista por meio da rede conhecida como Pan-Africanism Today, com sua rede real de escolas políticas em Gana, África do Sul e Tunísia.
(3) O surgimento da Organização do Povo da África Ocidental, com um conselho coordenador liderado por Philippe Noudjenoume, do Partido Comunista do Benim.
(4) As lutas de uma série de forças políticas no Sudão que levaram à revolução de 2018-19, impulsionadas pelas Forças de Consenso Nacional, Forças de Liberdade e Mudança, comités de resistência locais, Associação de Profissionais Sudaneses, com o Partido Comunista Sudanês envolvido em quase todas essas plataformas de massas.
A esta recensão devem ainda ser adicionadas novas instituições que entraram na batalha de ideias no continente africano:
(1) Uma robusta nova energia no Quénia, produzida pela Biblioteca Ukombozi, a Rede de Intelectuais Orgânicos e a Vita Books, cada uma delas elevando o legado marxista de libertação nacional, do assassinado Pio Gama Pinto e de outros (36).
(2) Uma nova geração de académicos em todo o continente, que estão atentos ao tratamento da economia africana como uma crise para o povo e uma oportunidade para empresas multinacionais, e que estão cientes dos conceitos racistas e sexistas usados para deslocar a centralidade do povo africano, formaram agora pelo menos duas plataformas para apresentarem a sua própria agenda. Primeiro, o Nawi, ou Afrifem Macroeconomics Collective, reúne feministas numa rede para intervir em debates sobre política macroeconómica, com seu foco a ser colocar no centro o labor das mulheres trabalhadoras (37). Segundo, um coletivo com o qual o Nawi trabalha em estreita colaboração, que é o Collective on African Political Economy (CAPE), coordenado por Grieve Chelwa. Em abril de 2023, o CAPE divulgou a sua declaração de abertura, cujo último parágrafo merece ser aqui citado longamente:
“O CAPE é um novo agrupamento de africanos, de diferentes formas de vida, que estão comprometidos com a emancipação económica e, portanto, total, do continente africano e do Terceiro Mundo de uma forma mais ampla. O CAPE espera recapturar os estudos e a política emancipatória de uma geração anterior de intelectuais, que emergiram do movimento pós-independência, na década de 1960, reformulando-a para responder às necessidades do mundo de hoje. As lições daquela geração e a infraestrutura institucional que ela construiu foram esquecidas em grande parte como resultado dos programas de ajuste estrutural (SAPs) inspirados pelo F.M.I. e pelo Banco Mundial, que começaram na década de 1980. Os SAPs são responsáveis pela destruição generalizada, incluindo a evisceração de comunidades académicas progressistas, na África e em grande parte do Terceiro Mundo. São precisamente essas comunidades que a CAPE espera fazer reviver, para reconstruir um presente e um futuro que centralize as necessidades e aspirações da maioria” (38).
(3) Em 2024, ano do centenário de nascimento de Cabral, a Fundação Amílcar Cabral, na cidade da Praia (Cabo Verde), realizará uma série de eventos, incluindo a publicação de várias seleções de Cabral. A publicação da biografia de Cabral por Antonio Tomás (em 2007 em português e em 2022 em inglês) é um evento marcante, à medida que começamos a recuperar seu legado completo (39).
(4) O estabelecimento do Centro Cultural Andrée Blouin, em Kinshasa, República Democrática do Congo (RDC), que atraiu e revitalizou as energias de pessoas como o falecido Ernest Wamba-dia-Wamba, e sua agenda para reviver o trabalho de Blouin - uma camarada muito próxima de Patrice Lumumba - ajudará a vitalizar as correntes lumumbistas dentro da RDC, onde elas estão sob repressão ou foram incorporadas ao sistema (40).
(5) Uma marcante biografia histórica em três volumes de Julius Nyerere, Development as Rebellion (Desenvolvimento como Rebelião), escrita por Issa Shivji, Saida Yahya-Othman e Ng'wanza Kamata, foi publicada em 2020 pela clássica editora Mkuki na Nyota, de Dar es Salaam, dirigida por Walter Bgoya. A Mkuki na Nyota publicou How Europe Underdeveloped Africa de Rodney, mas também trabalhos de Agostinho Neto, Samora Machel e outros do cânone Red Africa de Okoth (41). Shivji, Yahya-Othman e Bgoya surgiram politicamente em Dar es Salaam em torno do círculo de radicais que incluía Rodney. Agora, eles trabalham num contexto que inclui o vibrante movimento camponês da Tanzânia, Mviwata.
(6) Em relação ao campesinato, o trabalho teórico sobre as lutas agrárias no continente africano foi avançado no Instituto Africano de Estudos Agrários, sediado em Harare, Zimbábue, agora chamado de Instituto Africano de Estudos Agrários Sam Moyo, em homenagem ao seu notável fundador, Sam Moyo, que morreu em 2015. O Instituto criou uma Rede Agrária do Sul em 2002 e, uma década depois, o importante periódico Agrarian South: Journal of Political Economy. A Rede mantém uma escola de verão e um instituto de treinamento para jovens académicos dos três continentes do Sul global. Esses institutos cresceram no solo cultivado pelo Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais na África, formado em 1973 por vários intelectuais que saíram da corrente do marxismo e da libertação nacional. O conselho publica mais de dez periódicos nos quais se pode ler o pensamento de académicos africanos sobre as realidades africanas.
(7) O renascimento da tradição intelectual e do legado político de Nkrumah já era esperado há muito tempo, mas é bem-vindo. O crédito por isso vai para o Movimento Socialista de Gana, que vem realizando eventos anuais para lembrar a expulsão de Nkrumah em 24 de fevereiro de 1966, no que eles chamam de "Dia da Vergonha", e publicou The Great Deception (O Grande Logro), primeiro em 2005 e agora, na sua quarta edição, em 2024, que reúne os principais documentos sobre o golpe. É por meio desse renascimento que The Revolutionary Thoughts of Kwame Nkrumah (Os pensamentos revolucionários de Kwame Nkrumah) foi publicado em colaboração pela Inkani Books na África do Sul e pela Militant Books no Gana (42).
(8) Finalmente, na África do Sul, a Inkani Books, a nova editora pan-africanista, que lançou volumes que selecionam a obra de Sankara e a de Cabral, bem como a primeira tradução em zulu de Os Condenados da Terra (Izimpabanga Zomhlaba) de Fanon. Enraizada na livraria comunitária The Commune Bookshop, de Joanesburgo, a Inkani Books tem a ambição, por meio da União Africana de Editoras de Esquerda, de dinamizar a publicação de livros de esquerda em todo o continente africano.
Esta lista de movimentos e instituições envolvidas na batalha de ideias no continente africano é meramente indicativa. Eles constituem uma parte do mundo real da África Vermelha, para o qual Okoth aponta. Há sobriedade aqui, mas também uma sensibilidade que diz que mais organizações precisam de ser construídas, mais plataformas de massa precisam ser desenvolvidas e mais teorias, programas e estratégias precisam ser debatidos.
(*) Vijay Prashad (n. 1967) é um hiperativo historiador, pesquisador, jornalista, editor, comentador político e intelectual público indiano e cosmopolita. Há muito tempo já que buscávamos uma ocasião para o publicar em O Comuneiro. Nascido e criado em Calcutá, frequentou aí a Doon School (um internato residencial para rapazes), inserindo-se, por tradição familiar, no ambiente intelectual do comunismo bengalense. Nos Estados Unidos da América, obteve uma licenciatura no Pomona College em 1989 e um doutoramento na Universidade de Chicago em 1994. É atualmente diretor executivo do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, editor da LeftWord Books, correspondente de Globetrotter Media e membro sénior não residente do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin, da República Popular da China. Entre as suas já muito numerosas obras publicadas em volume, destacaremos, The Karma of Brown Folk, University of Minnesota Press. (2000), Untouchable Freedom: A Social History of a Dalit Community, Oxford University Press (2002), Keeping up with the Dow Joneses: Stocks, Jails, Welfare, South End Press (2003), The Darker Nations: A People's History of the Third World, The New Press (2007), Marx's Capital: An Introductory Reader, com contribuições de Vijay Prashad, Venkatesh Athreya, Prasenjit Bose, Prabhat Patnaik, Jayati Ghosh, T. Jayaraman, R. Ramakumar, LeftWord (2011), Arab Spring, Libyan Winter, AK Press (2012), Poorer Nations: A Possible History of the Global South, Verso (2013), No Free Left: The Futures of Indian Communism, LeftWord Books (2015), Red October: The Russian Revolution and the Communist Horizon, LeftWord Books (2017), Red Star Over the Third World, Pluto Press (2019), Washington Bullets, LeftWord Books (2020), The Withdrawal: Iraq, Libya, Afghanistan, and the Fragility of U.S. Power, com Noam Chomsky. The New Press (2022), The Political Marx, com Aijaz Ahmad, LeftWord Books (2023) e On Cuba: Reflections on 70 Years of Revolution and Struggle, com Noam Chomsky, The New Press (2024). Mikaela Nhondo Erskog é uma jovem educadora e investigadora sul-africana. Tem um mestrado em História e licenciatura pelo programa de bolsas da Unidade de Humanidades da Universidade de Rhodes, Cidade do Cabo. Trabalha em estreita colaboração com a programação educativa do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA). Nos últimos anos, tem-se dedicado ao trabalho de construção de redes internacionais de movimentos sociais, sindicatos e organizações populares no continente africano, com especial incidência na educação e no trabalho de solidariedade. É colaboradora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. Este artigo foi publicado no Vol. 76, n.º 2 da revista Monthly Review (junho de 2024). Todos os direitos reservados. A tradução é de Ângelo Novo.
____________________ NOTAS:
(1) Kevin Ochieng Okoth, “The Flatness of Blackness: Afro-Pessimism and the Erasure of Anti-Colonial Thought”, Salvage, January 16, 2020.
(2) Kevin Ochieng Okoth, “Decolonisation and Its Discontents: Rethinking the Cycle of National Liberation”, Salvage, September 22, 2021.
(3) Uma genealogia muito diferente da ideia de “colonialidade” nas Caraíbas, com raízes no trabalho dinâmico de Sylvia Wynter e C. L. R. James, é apresentada em Aaron Kamugisha, Beyond Coloniality: Citizenship and Freedom in the Caribbean Intellectual Tradition (Bloomington: Indiana University Press, 2019).
(4) Este foi um ponto sublinhado vivamente por Aijaz Ahmad na sua obra In Theory: Classes, Nations, Literature (London: Verso Books, 1992).
(5) Kevin Ochieng Okoth, Red Africa: Reclaiming Revolutionary Black Politics (New York: Verso, 2023), p. ix.
(6) Okoth, Red Africa, p. x.
(7) Okoth, Red Africa, p. ix.
(8) Ruth Wilson Gilmore, “Public Enemies and Private Intellectuals (1993)” in Abolition Geography: Essays Towards Liberation (London: Verso, 2022).
(9) “Des forces réactionnaires n.º 6: le discours afropessimiste”, Cases rebelles, Février 2023.
(10) Manthia Diawara, In Search of Africa (Cambridge: Harvard University Press, 1998).
(11) Para contrariar a leitura afro-pessimista de Fanon, ver Tricontinental: Institute for Social Research, Frantz Fanon: the Brightness of Metal, Dossier n.º 26, March 2, 2020.
(12) Paulin J. Houtondji, Sur La Philosophie Africaine: Critique De L’ethnophilosophie (Paris: Maspero, 1976).
(13) Achille Mbembe, On the Postcolony (Berkeley: University of California Press, 2001), ou no seu original em língua francesa: De la postcolonie, Essai sur l’imagination politique dans l’Afrique contemporaine (Paris, Karthala, 2000).
(14) Okoth, Red Africa, p. 14.
(15) Aníbal Quijano, “Coloniality of Power and Eurocentrism in Latin America”, International Sociology 15, n.º 2 (2000); José Carlos Mariátegui, Siete ensayos de interpretación de la Realidad Peruana (Lima: Biblioteca Amauta, 1928); Roxanne Dunbar-Ortíz, Pilar Troya Fernández, Ana Maldonado e Vijay Prashad, “A Letter to Intellectuals Who Deride Revolutions in the Name of Purity”, MR Online, November 20, 2019.
(16) Para um relato fascinante da viagem do pensamento decolonial para fora da América do Norte e para África, ver Suren Pillay, ”The Problem of Colonialism: Assimilation, Difference, and Decolonial Theory in Africa”, Critical Times 4, n.º 3 (2021).
(17) Aníbal Quijano, “El movimiento campesino peruano y sus líderes”, Revista Trimestral América Latina 8, n.º 1 (Marzo 1965) e Crisis imperialista y clase obrera en America Latina (Lima: edición del autor), 1974.
(18) Dilip Menon, “Decolonising Theory: Thinking from the Global South”, Seminar, n.º 747 (2021); ed. Dilip Menon, Changing Theory: Concepts from the Global South (New Delhi: Routledge, 2022). Algumas destas preocupações estiveram no centro do Grupo de Trabalho sobre Colonialidade da Universidade Estatal de Nova Iorque em Binghamton, no início dos anos 1990, e as suas ideias podem ser encontradas numa edição especial da CR: The New Centennial Review (vol. 3, n.º 3 [Fall 2003]), editado por Greg Thomas.
(19) George Yancy, “Afropessimism Forces Us to Rethink Our Most Basic Assumptions About Society”, Truthout, September 14, 2022.
(20) Frantz Fanon, The Wretched of the Earth (Harmondsworth: Penguin Books, 1967), 31; Amílcar Cabral, Tell No Lies, Claim No Easy Victories (Johannesburg: Inkani Books, 2022).
(21) John Bellamy Foster, “Marxian Ecology, East and West: Joseph Needham and a Non-Eurocentric View of the Origins of China’s Ecological Civilization”, Monthly Review 73, n.º 5 (October 2023): 1-12, e Irfan Habib, Essays in Indian History. Towards a Marxist Perception (New Delhi: Tulika Books, 1995).
(22) Aijaz Ahmad e Vijay Prashad, The Political Marx (New Delhi: LeftWord Books), 2023.
(23) Kwame Nkrumah, Neo-Colonialism: The Last Stage of Imperialism (London: Thomas Nelson and Sons, 1965); Susan Williams, White Malice: The CIA and the Covert Recolonization of Africa (New York: Public Affairs, 2021), p. 495.
(24) Para uma panorâmica dessa tradição marxista de libertação nacional, ver Vijay Prashad, introdução a Selected Ho Chi Minh (New Delhi: LeftWord Books, 2022).
(25) Eduardo Galeano, Las venas abiertas de América Latina (Mexico: Siglo XXI Editores, 1971), ou, em inglês, Open Veins of Latin America (New York: Monthly Review Press, 1992). Esta conexão é também feita por Leo Zelig, “The World Turned Upside Down: Rodney’s 1972 Masterpiece”, Review of African Political Economy, November 10, 2020, roape.net.
(26) Quatro dos ensaios, em particular, estão polvilhados de bons achados: Natasha Shivji “Universalism in Unevenness: Writing History at the Hill”, Peter James Hudson “History, Method, and Myth: Walter Rodney and the Geographies of Black Radicalism”, Richard Drayton’s “Reading for Time in How Europe Underdeveloped Africa”, e D. Alissa Trotz e Nigel Westmass’s “Insurgent Knowledges: Reading How Europe Underdeveloped Africa alongside the Rupture in Guyana”, todos incluídos em small axe, n.º 72, November 2023.
(27) David Scott, “Between Revolution and Repair: How Europe Underdeveloped Africa in a Caribbean Intellectual Tradition”, small axe 27, n.º 3 (November 2023): p. 67.
(28) As ideias de Marx sobre o modo de produção asiático, por exemplo, variaram ao longo do tempo e não têm o significado restrito que é frequentemente imposto ao conceito. Para os escritos do próprio Marx, ver The Asiatic Mode of Production: Sources, Development, and Critique in the Writings of Karl Marx, ed. Lawrence Krader (Assen: Van Gorcum and Comp BV, 1975). Os principais ensaios de um animado debate na Índia sobre o período pré-colonial foram reunidos por Harbans Mukhia em The Feudalism Debate (Delhi: Manohar, 1999). Veja-se também o conceito de modo de produção tributário de Samir Amin em Uneven Development (New York: Monthly Review Press, 1976), 13-30. A discussão numa edição especial do Journal of Peasant Studies 12, n.os 2-3 (1985) é muito informativa, particularmente os ensaios de R. S. Sharma (“How Feudal Was Indian Feudalism?”), Irfan Habib (“Classifying Pre-colonial India”), Frank Perlin (“Concepts of Order and Comparison, with a Diversion on Counter Ideologies and Corporate Institutions in Late Pre-colonial India”), e Chris Wickham (“The Uniqueness of the East”).
(29) Karl Marx e Frederick Engels, Communist Manifesto (New Delhi: LeftWord Books, 2019), p. 8.
(30) De facto, Scott tem vindo a pisar este terreno há décadas. A entrevista que Scott conduziu com o Professor Rupert Lewis da Universidade das Índias Ocidentais em Mona, Jamaica, intitula-se “The Dialectic of Defeat” (small axe 5, n.º 2 [2001]). No ensaio de Scott, há uma remissão para uma crítica anterior que diz que Rodney sacrificou o “dialeto” pela “dialética”, afastando-se do seu terreno e posicionando-se demasiado firmemente no marxismo. Edward Kamau Brathwaite, “Dialect and Dialectic”, Bulletin of the African Studies Association of the West Indies, n.º 6 (December 1973).
(31) Okoth, Red Africa, p. 81.
(32) Joanne Clark, “Regional Leaders Want Collaborative Effort with Africa to Address Reparation Issues”, Caribbean National Weekly, November 16, 2023.
(33) Okoth, Red Africa, p. 82.
(34) Okoth, Red Africa, p. 128.
(35) Ver Tricontinental: Institute for Social Research, Defending Our Sovereignty: US Military Bases in Africa and the Future of African Unity, Dossier n.º 42, July, 2021. Na Tricontinental, Instituto de Pesquisa Social, construímos um arquivo de material sobre esse contexto, como Resource Sovereignty: The Agenda for Africa’s Exit from the State of Plunder, Dossier n.º 16, May 7, 2019; Defending Our Sovereignty: US Military Bases in Africa and the Future of African Unity, Dossier n.º 42, July 5, 2021; e Life or Debt: The Stranglehold of Neocolonialism and Africa’s Search for Alternatives, Dossier n.º 63, April 11, 2023.
(36) Para uma introdução, ver Shiraz Durrani, Pio Gama Pinto: Kenya’s Unsung Martyr, 1927–1965 (Nairobi: Vita Books, 2018) e Lewis M. Njuguna e Nicholas Mwangi (eds.), Kenyan Organic Intellectuals Reflect on the Legacy of Pio Gama Pinto (Québec: Daraja Press, 2021). Para mais vozes da rede de intelectuais orgânicos quenianos, ver Nicholas Mwangi e Lewis Maghanga (eds.), Breaking the Silence on NGOs in Africa (Québec: Daraja Press, 2023).
(37) Para uma excelente introdução ao seu pensamento, ver Joanita Najjuko e Crystal Simeoni, “Love or Labour?: The Invisible Wheel that Turns the World”, Interventions 3, Tricontinental: Institute for Social Research, November 6, 2023.
(38) “The IMF Is Never the Answer: A Statement from the Collective on African Political Economy”, in Tricontinental Institute for Social Research, Life or Debt.
(39) António Tomás, Amílcar Cabral: The Life of a Reluctant Nationalist (Johannesburg: Jacana Press, 2021).
(40) Ernest Wamba-dia-Wamba Bazunini, The Thought and Practice of an Emancipatory Politics, Tricontinental: Institute for Social Research, July 20, 2022 e The Congolese Fight for their Own Wealth (Dossier n.º 77, June 2024), Tricontinental: Institute for Social Research, Centre Culturel Andrée Blouin, Centre for Research on the CongozKinshasa e Likambo Ya Mabele (Land Sovereignty Movement).
(41) Saida Yahya-Othman, Ng’wanza Kamata e Issa G. Shivji, Development as Rebellion: A Biography of Julius Nyerere (Dar es Salaam: Mkuki na Nyota, 2020).
(42) Vijay Prashad e Efemia Chela, The Revolutionary Thoughts of Kwame Nkrumah, (Johannesburg: Inkani Books; Accra: Militant Books, 2024) com prefácios de Kwesi Pratt Jr. (secretário-geral do Socialist Movement of Ghana) e Francis Nkrumah (filho de Kwame Nkrumah).
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